Personagens de Nelson Rodrigues
A lista abaixo não é nem pretende ser
exaustiva. Foram contemplados nela alguns personagens mais destacados da obra
dramática como um todo, mas especialmente os personagens-tipo que povoavam as
crônicas rodriguianas. Quem começa a ler essas crônicas vai se deparar com
certeza com “cretinos fundamentais”, “idiotas da objetividade”, “padres de
passeata” e “vizinhas gordas e patuscas”, entre outros, que aparecem reiteradas
vezes e representam determinados papeis na economia do texto. As definições,
apenas uma espécie de instantâneo, são um misto de citação e paráfrase do
próprio texto habitado pelos personagens.
Alaíde – sofre um acidente misterioso e
fica alucinando entre a vida e a morte, período em que reconstrói mentalmente a
história da prostituta Madame Clessi. Casada com Pedro, que já foi namorado de
sua irmã. Alaíde desconfia que os dois têm um plano para matá-la. (Vestido de noiva)
Amado
Ribeiro – jornalista que vê Arandir beijar o homem atropelado e resolve tirar
proveito disso. (O beijo no asfalto)
Arandir -
homem casado, que beija a boca de outro homem, que acaba de ser atropelado,
realizando assim seu último desejo antes de morrer. (O beijo no asfalto)
Banderinhas
artilheiros – são aqueles que “convertem” gols para a
equipe vencedora com suas marcações duvidosas de jogadas.
Boca de Ouro - bicheio temido e megalômano,
que tem esse apelido porque, ao melhorar de vida, trocou os dentes perfeitos
por uma reluzente dentadura de ouro. (Boca
de Ouro)
Cabra vadia – única testemunha das entrevistas imaginárias feitas por Nelson Rodrigues
num terreno baldio.
Ceguinho
– personagem que fica extasiado em assistir aos jogos do Fluminense.
Cretinos fundamentais – “O cretino
fundamental é o inimigo do escrete”, normalmente comentaristas de futebol que
sempre têm uma visão pessimista com relação à seleção brasileira. (Brasil em campo)
D. Aninha - doida pacífica, mãe de Olegário (A mulher sem pecado)
Diabo da fonseca - É chamado para
ressuscitar Dorothy Dalton, o marido de Ivonete e, depois que o faz, acaba casando
com a moça, como recompensa. (Viúva,
porém honesta)
Dorothy Dalton – Marido de Ivonete que
morre atropelado por um carrinho do Chicabon. (Viúva, porém honesta)
D. Márcia - ex-lavadeira e mãe de Lídia (A
mulher sem pecado)
Elias – irmão de criação de Ismael,
invejado por ele por ser branco. (Anjo
negro)
Estagiária de calcanhar sujo - Variação da estudante de psicologia, mas que
preferiu formar-se em jornalismo.
Estudante de psicologia da PUC - Jovem da elite carioca, estudante da
Pontifícia Universidade Católica. Nelson se referia a esse personagem-tipo como
alguém que “entende nossos sentimentos”. (À
sombra das chuteiras imortais)
Freira de minissaia – o mesmo que padre de
passeata, ou melhor, sua versão feminina.
Idiotas da objetividade – indivíduos que
não conseguem entender as coisas mais evidentes.
Ismael – médico bem-sucedido, Ismael é
negro e renega a sua raça. Construiu uma fortaleza para impedir que a esposa
Virgínia tivesse contato com homens brancos. (Anjo negro)
Ivonete Guimarães - Filha de J.B. Albuquerque Guimarães, a moça
fica viúva muito jovem e resolve manter-se assim, respeitando a memória do
marido morto. (Viúva, porém honesta)
J.B. de Albuquerque Guimarães - Diretor do
jornal A Marreta que faz de tudo para
que a filha Ivonete abandone a condição de viúva e lhe dê netos. (Viúva, porém honesta)
Lídia – esposa de Olegário, tem um caso com Umberto, o chofer, e foge com ele.
(A mulher sem pecado)
Lúcia – irmã de Alaíde, aparece durante boa
parte da peça como a Mulher do Véu. Depois da morte da irmã, consegue ficar com
Pedro. (Vestido de noiva)
Madame clessi - cocote de 1905 que povoa a mente de Alaíde, representando a mulher
liberada. (Vestido de noiva)
Maurício - irmão de criação de Lídia, é acusado por Olegário de manter uma relação
incestuosa com a irmã. (A mulher
sem pecado)
Olegário - paralítico recente e grisalho, marido de Lídia, de quem tem um ciúme
obsessivo. (A mulher sem pecado)
Padre de passeata – religioso que, no fim
dos anos 1960, participava de manifestações de rua contra a ditadura militar em
trajes civis.
Pedro – industrial, marido de Alaíde e
depois de Lúcia. (Vestido de noiva)
Quadrúpede
de vinte e oito patas – sujeito que se proclama de bom
grado ignorante. Ou, como diria Nelson
Rodrigues, “Narciso às avessas que tratava a própria imagem a pontapés.” (Brasil em campo)
Gordo de três papadas e três bochechas em
cada face - Marido da grã-fina de nariz
de cadáver.
Grã-fina de nariz de cadáver –
Representante da alta sociedade, que
admira o cronista e o obriga a comparecer a suas festas.
Gravatinha - trazer bons fluidos para o escrete tricolor. “Desde seu
falecimento, ocorrido em 1918, o ‘Gravatinha’ só baixa do Além para ver as
vitórias do Fluminense. Quando o Tricolor vai ganhar, ele comparece,
infalivelmente.” (Jornal dos Sports, 10/11/1967)
Palhares, o canalha – sujeito que não respeita nem a própria
cunhada.
Profeta – vaticinava vitórias do Fluminense
e sofria horrores quando suas previsões não se confirmavam.
Sobrenatural de Almeida - Entidade invisível que modificava bruscamente
alguma situação durante uma partida de futebol. Vivia, por exemplo,
interferindo nos jogos do Botafogo.
Virgínia – casada com Ismael, a moça
assassina os próprios filhos. (Anjo negro)
Vizinha gorda e patusca - vizinha gorda, cheia de varizes, tem sempre
uma opinião a dar.