A Cabra Vadia - 1970
“Há coisas que um grã-fino só confessa num
terreno baldio, à luz de archotes, e na presença apenas de uma cabra vadia.”
Numa época marcada pela radicalização de posições políticas, Nelson Rodrigues
era uma voz dissonante na imprensa desabituada à complexidade. Publicava sem
temor suas radicais e polêmicas opiniões sobre política, teatro e
comportamento. Atacava personagens nos quais via a hipocrisia da época – o
“padre de passeata”, a “grã-fina de nariz de cadáver” que faz “pose de
socialista” – e não perdoava seus novos e antigos amigos e inimigos: Otto Lara
Resende, Hélio Pellegrino, Antonio Callado, Alceu Amoroso Lima, D. Hélder
Câmara, Nelson Motta. A cabra vadia traz de volta a seleção feita pelo
autor em 1970 das crônicas publicadas em O Globo entre 1967 e 1969.
Vemos nessas 84 crônicas uma sinceridade inabalável, que estremece nossas
certezas e que fez de Nelson um incômodo para a intelectualidade de 1968.