Críticas

A morta sem espelho

Matéria de 14/09/1963


Houve algo com essa novela que o canal 13 vem apresentando com foros de grandiosidade; dentro da nossa modesta condição de telespectador, não gostamos (como desejaríamos gostar) daquele amontoado de situações, secionadas por suspenses típicos dos romances radiofônicos em capítulos. É claro que o original é de Nelson Rodrigues - e isso vale como um precioso meio caminho andado de sucesso. Mas a novela não é de molde chegar até lá. Tem momentos tediosos, em que o próprio Paulo Gracindo (sempre um ator admirável) se perde no personagem inconvincente, a maneira de um pai vilânico situada no século XX. Os diálogos parecem-nos exageradamente populares, sem uma condição mais razoável: a própria cena do espancamento do Sérgio Brito (salvo seja!) na rocambolesca ilha dos mil rochedos, foi terrivelmente falso, provocando risos nos que assistiam (e com bons olhos, anotem!) a exasperação do Paulo Gracindo e a tentativa de se fazerem em celerado o bom do Jaime Barcelos.

Pode ser que em outros futuros capítulos a coisa melhore. Quem sabe se tudo não passou de um mau dia de gravação de vídeo-tape? O espetáculo nos pareceu cansativo, desinteressante, talvez em função de um excesso de trabalho de personagens e diretores: sabe-se que a novela foi gravada as pressas (capítulo atrás de capítulo) para que não sofresse paralisações - em virtude da cegonha andar próximo da Fernanda Montenegro, personagem principal da história. Deve ter sido.

 



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Sobre

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 23 de agosto de 1912, o quinto filho de uma família de catorze. Quando tinha três anos, seu pai, Mário Rodrigues, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, capital da República. O combinado era que tão logo encontrasse trabalho, chamava a família para ir a seu encontro. Maria Esther, sua esposa, não agüentou esperar. Em 1916, empenhou as jóias e mandou um telegrama para o marido, já avisando do embarque naquele mesmo dia. Nelson conta, nas "Memórias" publicadas no "Correio da Manhã", que se não fosse a atitude da mãe, o pai jamais teria permanecido no Rio.