Entrevistas

Nelson Rodrigues – Sou um moralista


Nelson Rodrigues, brasileiro, jornalista, teatrólogo, futebolista, romancista e outros istas e ólogos que tem sua vida profissional marcada de conflitos, mal-entendidos e aborrecimentos com a censura de diversões públicas. Seu último choque com a censura envolve a proibição do filme de Arnaldo Jabor “Toda a Nudez Será Castigada”, baseado em peça homônima. A situação se complica um pouco porque o dito filme foi anteriormente liberado com alguns cortes (o maior com cerca de 5 minutos – a cena em que envolvia um delegado), teve grandes bilheterias, algum sucesso de crítica e recebeu cinco prêmios do Instituto Nacional do Cinema (INC), órgão do MEC.

No caso das proibições às peças e livros de Nelson Rodrigues, a decisão da censura é sempre atribuída à “indução ao sexo e à violência” contida em seus trabalhos.

- Não inventei nenhum dos dois. O sexo e a violência existem e aí estão para quem quiser confirmar. Se tomarmos ao pé da letra esta afirmação dos egrégios censores, tudo poderá ser proibido; assim, Branca de Neve poderia induzir à dissolução da família e à violência, o Pequeno Polegar poderia induzir ao homicídio ou à violência dos menores contra os maiores.

- Problemas com a censura não são novidade para mim. Uma vez escrevi uma novela de televisão que foi retirada do ar depois de alguns capítulos – no entanto, era uma obra de amor, inócua e imaculada. Todas as minhas peças enfrentaram problemas para a sua liberação. Assim foi com a primeira (A Mulher Sem Pecado) e a última (Toda a Nudez Será Castigada). Dez das minhas 14 peças foram interditadas e posteriormente liberadas sem cortes.

- A questão da censura é uma questão de impropriedade. O adulto tem o direito de ver tudo, a criança deve ser preservada mas quando chegar ao estado adulto, deve poder escolher por si o que vai ter como divertimento ou cultura.

- No meu caso, realmente não entendo a posição da censura. O censor interpreta a letra da lei, que diz: deve ser proibido o que induz a violência... Pois bem, então que sejam proibidas as obras que podem induzir a violência ou façam sua apologia. Nos meus textos, os valores são precisos se definidos. O pecado e o horror são apresentados como tal, claramente.

- Sou muito mais rigoroso do que a praia, a qual apresenta a nudez impune. Sou antes de tudo um moralista.

- Quanto ao filme “Toda Nudez...” estou certo de que ele será liberado de uma vez por todas. Seu valor foi reconhecido oficialmente (os prêmios do INC e sua escolha para representar nossa produção cinematográfica nos festivais de Cannes e Berlim). Assim acredito que este reexame da Censura Federal só poderá resultar em sua total e definitiva liberação.

- É preciso que a censura tenha critérios permanentes e bem definidos, não mutáveis segundo subjetivismos pessoais pois se não for assim será impossível o trabalho em cinema, rádio, teatro e televisão.

- Não penso em entrar para a Academia Brasileira de Letras mas minha única objeção à dita seria ter que fazer o discurso de posse. Para mim – e talvez para os ouvintes – isto seria uma provação excessiva.

- Atualmente tenho duas peças em rascunho, “O Arcebispo Vermelho” e uma outra autobiográfica, em nove atos. Estou apenas esperando uma brecha em minhas atividades profissionais para poder terminá-las.

- Lamento, mas meus direitos autorais não me permitem viver exclusivamente deles. Este seria meu ideal.

 

Repórter de polícia

Nelson Rodrigues está com 60 anos de idade, nasceu no Recife, em 23 de agosto de 1912, e veio com a família para o Rio aos quatro anos de idade. Sua infância e juventude foram profundamente marcadas por tragédias familiares. Começou, por necessidade, a trabalhar aos 13 anos de idade como repórter de polícia e isto marcou-o ainda mais.

- A morte de meu irmão Roberto deu-me um profundo horror ao assassinato. Este horror é tanto que entre ser vítima ou assassino, prefiro ser vítima.

- Acho que todo o ficcionista deveria passar pela reportagem policial.

Nelson Rodrigues há algum tempo escandalizou meio mundo ao afirmar que as mulheres gostam de apanhar. Até hoje, ele mantém seu ponto de vista, mas isto já não escandaliza ninguém. Exemplo excelente do que é chamado de “porco chauvinista” pelas líderes de movimentos de libertação feminina, ele tem opiniões definitivas sobre o amor.

- Como sempre me apaixonei por minhas professoras, acho que as grandes paixões do homem surgem quando ele está entre os seis e dez anos, apenas.

- O sexo suja o amor. O homem deve possuir todas as mulheres, menos a bem-amada. O fato de as mulheres gostarem de apanhar é verdadeiro. Uma vez fiz uma estatística e verifiquei que dez mulheres que haviam apanhado tinham passado a gostar mais do marido.

- A mulher tem diluído em seu sangue milênios de submissão, e quando o homem não a domina, ela passa a desprezá-lo.

- Não entro na minúcia de dizer em que lugar a mulher deve apanhar, mas sei que ela sente a nostalgia do homem das cavernas. Ai do homem que, no momento certo, não reage como um Brucutu.

- Acho que o fato de eu nunca ter batido em mulher e tratá-las bem explica meus sucessivos fracassos amorosos.

- Para bater na mulher não é preciso ser casado, o homem pode ser namorado, noivo ou amante. O jogo amoroso exige na hora certa a violência masculina.

- Já a mulher que bate no marido é inadimissível, porque então ela estaria invertendo toda a convivência amorosa.

- Acho que todos os chamados movimentos de libertação feminina são liderados por machos mal acabados. Não aceito ser chamado de porco chauvinista, porque minha posição decorre exclusivamente da natureza humana.



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Sobre

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 23 de agosto de 1912, o quinto filho de uma família de catorze. Quando tinha três anos, seu pai, Mário Rodrigues, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, capital da República. O combinado era que tão logo encontrasse trabalho, chamava a família para ir a seu encontro. Maria Esther, sua esposa, não agüentou esperar. Em 1916, empenhou as jóias e mandou um telegrama para o marido, já avisando do embarque naquele mesmo dia. Nelson conta, nas "Memórias" publicadas no "Correio da Manhã", que se não fosse a atitude da mãe, o pai jamais teria permanecido no Rio.