A morta sem espelho
Matéria de 14/09/1963
Houve algo com essa novela que o canal 13
vem apresentando com foros de grandiosidade; dentro da nossa modesta condição
de telespectador, não gostamos (como desejaríamos gostar) daquele amontoado de
situações, secionadas por suspenses típicos dos romances radiofônicos em capítulos.
É claro que o original é de Nelson Rodrigues - e isso vale como um precioso
meio caminho andado de sucesso. Mas a novela não é de molde chegar até lá. Tem
momentos tediosos, em que o próprio Paulo Gracindo (sempre um ator admirável)
se perde no personagem inconvincente, a maneira de um pai vilânico situada no
século XX. Os diálogos parecem-nos exageradamente populares, sem uma condição
mais razoável: a própria cena do espancamento do Sérgio Brito (salvo seja!) na
rocambolesca ilha dos mil rochedos, foi terrivelmente falso, provocando risos
nos que assistiam (e com bons olhos, anotem!) a exasperação do Paulo Gracindo e
a tentativa de se fazerem em celerado o bom do Jaime Barcelos.
Pode ser que em outros futuros capítulos a
coisa melhore. Quem sabe se tudo não passou de um mau dia de gravação de
vídeo-tape? O espetáculo nos pareceu cansativo, desinteressante, talvez em
função de um excesso de trabalho de personagens e diretores: sabe-se que a
novela foi gravada as pressas (capítulo atrás de capítulo) para que não
sofresse paralisações - em virtude da cegonha andar próximo da Fernanda
Montenegro, personagem principal da história. Deve ter sido.