Entrevistas

Entrevista com Eduardo Tolentino

Matéria de 05/12/2000


Como foram as montagens que você fez dos textos do Nelson?

"Viúva Porém Honesta" era tida como uma peça menor. Um texto iconoclasta, cheio de questionamentos, ideal para aquele momento, 1983, pois mostrava a falência institucional no Brasil. Em 50, ela havia sido pouco entendida porque se acreditava muito no futuro do País. Em 1983, já podíamos considerar sua falência.

"Vestido de Noiva", que fiz em 1994, tinha outro tipo de desafio. A peça era uma espécie de tabu, pois nenhuma montagem tinha sido tão bem sucedida quanto a do Ziembinski. Tive que lançar outra luz sobre a peça, respeitando a estrutura dela. Os três planos da peça ­ realidade, memória e alucinação, apareceram de uma maneira mais virtual ­ mais condizente com a época.

Para isso, você fez alguma alteração no cenário?

Sim. Porque para se respeitar uma obra é preciso desrespeitá-la. Mas a estrutura sempre fica. Nelson tem um ritmo e uma sintaxe muito próprios.

Como foi a reação do público aos três trabalhos?

Teve de tudo. "Viúva Porém Honesta" teve uma crítica fantástica e um seleto grupo de fãs. Era uma obra difícil naquele momento, em que Nelson ainda não era uma celebridade, não era moda gostar dele.

"Vestido de Noiva" teve um sucesso retumbante, as pessoas ficaram alucinadas e "A Serpente" também foi bem de crítica.

Há alguns anos atrás o texto de Nelson chocava. Você acha que o público hoje está mais preparado ou já se acostumou com o estilo de Nelson?

Hoje as pessoas recebem melhor, são moralmente mais preparadas. Têm mais liberdade no linguajar e assistem cenas pesadas na televisão.

Você montou três peças dele quando poderia ter escolhido outro autor. Por que repetir Nelson?

Porque Nelson é para a vida inteira.




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Sobre

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 23 de agosto de 1912, o quinto filho de uma família de catorze. Quando tinha três anos, seu pai, Mário Rodrigues, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, capital da República. O combinado era que tão logo encontrasse trabalho, chamava a família para ir a seu encontro. Maria Esther, sua esposa, não agüentou esperar. Em 1916, empenhou as jóias e mandou um telegrama para o marido, já avisando do embarque naquele mesmo dia. Nelson conta, nas "Memórias" publicadas no "Correio da Manhã", que se não fosse a atitude da mãe, o pai jamais teria permanecido no Rio.