Asfalto Selvagem
Matéria de 01/07/1964
O filme apesar dos cortes tem motivos de atração
para o grande público. Com ritmo de crescente interesse dá ao espectador uma
boa imagem da sociedade corrompida de nossos dias. O esplendor falso das
aparências, a moral caolha estão bem estampados. Jece Valadão, Fregolente e
Odilon são os melhores. Do naipe do filme salientamos a estreante Vera Viana,
uma autêntica revelação. Os cuidados técnicos dispensados a esta produção de
Richers patenteiam que sob este ângulo muito tem avançado nossa indústria
cinematográfica. Soube o diretor J. B. Tanko, conduzir com acerto a história de
Nelson Rodrigues, um talento que, se enveredasse por caminhos menos
sensacionalistas, poderia prestar inestimáveis serviços às películas
brasileiras. Sem falso puritanismo o que deploramos é a insistência dos
assuntos de exploração sensual no nosso cinema, criando uma platéia viciada a
esses temas. Ótimo seria que argumentos edificantes fossem também preparados
neste período de reação do chamado cinema novo nacional. "Asfalto
Selvagem", proibido até 21 anos (não sabemos como estão se arranjando para
exercer fiscalização os diretores de cinema...) tem marcado êxito de
bilheteria. É realista, reflete muitas verdades e, quando o vimos, logo
sentimos o dever de reconhecer os seus méritos.