A Grande Resenha Esportiva
Matéria de 30/05/1964
Com Luís Mendes no comando, descrevendo os
lances principais dos encontros futebolísticos da semana a TV Rio transmite, no
fim do Domingo (e as vezes no começo, já, da segunda-feira) em que o debate
apaixonado é vedete. Nem que a simples mostra dos gols ficaria no corriqueiro,
insistindo em algo que a TV (Tupi) fazia há 10 anos. O choque idéias,
entretanto, valoriza a "Resenha", de vez que os cronistas importantes
puxam a brasa para sua sardinha, isto é, fazem-se de defensores dos clubes de
seu coração e argumentam com veemência no impacto da paixão que só mesmo o
futebol pode provocar. É empolgante ver-se, por exemplo, o Armando Nogueira
usar de toda a sua argúcia e esgrimagem argumentativa para explicar o fulgor de
Pelé e a decadência do resto do time do Santos. E é igualmente absorvente a
argumentação de Souza Francisco, a contestá-lo com esse ou aquele detalhe,
enquanto Nelson Rodrigues obstinadamente exalta o seu Fluminense de 800 anos,
descobrindo num simplório passe de bola de aprendiz de craque tricolor a marca
de um Leonardo da Vinci da pelota... João Saldanha fala de seu Botafogo,
explica equívocos de seu time e de outros, com uma linguagem clara e
saborosamente exclusiva do torcedor de futebol ponderado e emite ponto de vista
importante, que Armando Nogueira contesta, descobrindo raízes negativas. É um
debate feito de modo a contagiar o telespectador, que se surpreende, num
momento, argumentando de sua poltrona, com as figuras insensíveis de sua TV. E
entra o Mário Vianna, num vocabulário todo seu, por vezes dilacerando a
gramática, a dizer que o juiz foi um mero soprador de apito.... ou que teve
qualidades. Sua presença, a despeito da fisionomia carrancuda, é sempre
simpática e ele está assim como um amigo que o telespectador se acostumou a
ouvir, com respeito, a propósito de um assunto que ele sabe de cor e salteado.
É um bom programa, honesto e de autenticidade a toda a prova - coisa não muito
fácil em TV nesses tempos, em que até artistas famosos arranjam briguinhas
diante das câmeras para ludibriar a ingenuidade não muito ingênua do público...